quinta-feira, 12 de março de 2009

Opúsculo Divino (poema integrante do meu livro “Histórias para o coração do universo” - que será lançado em breve)

Opúsculo divino

Para Paulo, Dante e Camões

Prólogo

A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com vós todos. Amém.
II Coríntios 13:13

I

Para Paulo


Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
I Coríntios 13:1-3


Você me possui por séculos.
Nas noites frias, nos dias quentes,
Quando dorme e quando acorda,
Se chora ou se sorri.
E, no entanto, não me conhece,
Ou, na verdade, não quer saber.
Porém, hoje far-te-ei enxergar
Que nas águas que escorrem
Eu desenho o caminho;
Nos pássaros que voam eu sustento o infinito;
Dos olhos do sol eu arranco a luz que te ilumina.
Faço-te farol para a felicidade.
Eu sou o ar que você respira,
O alimento doce para o seu paladar,
O segredo sagrado que você bem conhece.
Eu sou a resposta para o seu coração,
A chama que arde e queima a escuridão;
Porque no escuro todos dormem ainda,
Mas acordados comigo seguirão iluminados.
Apenas saiba que não bastam perguntas,
Eu sou a resposta que nenhuma pergunta pode calar.
Apenas nascem as coisas, mas Eu existo antes do alvorecer.
Após a noite, envio o brilho do arrebol e visto as tardes
Com o noturno lençol.
Meus olhos não se cerram, pois você precisa de mim.
Os meus olhos são estrelas – estão em todos os lugares.
A chuva é o meu suor – quando labuto para te sustentar.
Meu sorriso é o cometa que risca o céu
Quando sorrio por te ver feliz.
Por que você ainda possui perguntas?
Os campos azuis do mar,
O grandioso exército dos céus,
O poderoso suspiro dos ventos,
A via-láctea,
As flores,
As estrelas,
Os diamantes,
As virtudes inocentes que lhe habitam o espírito,
A terra fértil de onde você tira o sustento,
As fontes ululantes onde você mata a sua sede,
Todos os domínios que as suas mãos podem tocar,
Não são respostas necessárias?

II

Para Dante

O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência desaparecerá.
I Coríntios 13:4-8


Às vezes, desconhece a verdade do seu caminho.
Porém, desenha o sol que lhe ilumine,
Construindo faces nas linhas de suas mãos.
Perde o que não deseja;
Ganha muito mais do que queria.
E por não saber que é perfeito
É lindo e direito.
Abre seu fruto na língua dos anjos...
Golpeia sua navalha na carne da virgem...
Ataca sem ferir, fere sem doer.
Estar cativo por desejo.
Perder-se sem romper limites,
Voar sem asas cortando o frio.
Tudo é paz sobre o seu travesseiro,
Esperando o que não seja contrário –
Oposto ao seu próprio encanto.
O que contenta, porém, perturba.
Verdade ainda acordada...
O que obedece sem pertencer...
O que acredita que ainda é capaz
De transformar o que não está perdido –
O mesmo...
Outra vez...
Tenta brotar na pele das crianças...
Amor –
Palavra oculta que embriaga inimigos.

III

Para Camões

Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo, que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.
I Coríntios 13: 9-12


Mesmo que eu tivesse a força para transportar os montes
E o fôlego poderoso para controlar os ventos,
Seria como o pó nas pedras de secas fontes
Se não estivesse o amor em meus pensamentos.
E se eu pudesse dominar as palavras do universo
Para que elas trouxessem a harmonia,
Sem amor, o meu coração perverso
Seria nada – e nada valeria.
O amor é a água que dessedenta o coração,
É o fogo ardente que abrasa até à alma,
É o vento forte que nos turva a visão
E a brisa leve que abranda e acalma.
É o pássaro que espalha a semente
Atirando-a como flecha sem destino.
É o que nos faz chorar e estar contentes,
É um grande privilégio e maior desatino.
É a força que governa o mundo
E sai abrindo suas feridas.
É a cura que nos deixa moribundos,
Desejando um pouco mais de vida.
É o oceano mais azul e profundo
Que o azul do céu mais forte,
É o que nos torna vagabundos
Presenteados pela suprema sorte.
Mesmo que eu tivesse da criança a inocência
E roubasse dos cientistas a ciência,
E adquirisse dos dicionários a eloqüência,
E de Deus recebesse a inteligência.
Se o amor não estivesse em minhas veias –
Como o fogo da vida que incendeia –,
Eu existiria e não viveria,
Compraria asas e não voaria.

Epílogo

Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.
I Coríntios 13:13

Nenhum comentário:

Postar um comentário