segunda-feira, 15 de março de 2010

Carta ao amigo



Para Meu Grande Amigo William Araújo.

Pois a amizade nada mais é que uma das mãos milagrosas do amor.

Amigo,
Deixa-me cuidar do teu coração
Com o mesmo zelo que uso
Ao cuidar do que bate em meu próprio peito.
Veja que passo só,
Enquanto a vida pede que caminhemos
De mãos dadas, ou mesmo ombro a ombro.
Amigo,
Inventaram uma palavra: acaso,
Mas no coração de Deus não há coincidências
Nem palavras não pensadas.
Penetremos em nossos corações e encontraremos Deus,
E saberemos o que ele quer de nós...
Doar-nos-emos um ao outro
E estaremos nos doando a Deus.
Deixa-me levar a ti o melhor de mim
E extrair de ti o melhor que não conheces.
Permita-me encher teu dia de alegria
E colocar doces lembranças em teu peito.
Amigo,
Cada um vem sozinho para esta vida,
Mas não deve partir sem levar um coração amigo
Impresso em sua alma,
Pois o que dirá quando retornar para Deus?
Que não conheceu a responsabilidade de uma amizade?
Que nunca arrancou um sorriso de uma face?
Por isso,
Amigo,
Peço-lhe,
com pleno encarecimento,
não exija que eu seja um ótimo amigo
(visto que sou fatalmente humano),
Mas nunca me prive de lhe chamar:
Amigo.

Belo Horizonte, 17/03/09

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terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Mesmo que...



Mesmo as críticas que precisamos proferir podem ser ditas de uma forma suave e acompanhadas de um sorriso.
Mesmo quando a força dos nossos braços se exaure, ainda temos a força do pensamento.
Mesmo quando a vida exige um pouco de seriedade, um sorriso nunca será inoportuno.
Mesmo que a vida seja tão grande e o universo tão imenso, são as pequenas coisas que nos permitem as maiores alegrias.
Mesmo que você não possua o melhor de tudo, ainda poderá fazer o melhor com tudo o que lhe pertence.
Mesmo que tenhamos que enfrentar momentos difíceis, possuir a força da vida pulsando em nosso ser para fazer com que passemos por tais momentos já é um milagre digno de louvor.
Mesmo quando amamos e não nos sentimos amados, esse amor muda nossa vida de uma maneira fantástica e inigualável.
Mesmo quando desistimos, o coração da vida anseia pela nossa vitória.
Mesmo quando não agradecemos por mais um dia de vida, o universo ainda é paciente conosco, pois Deus sempre acredita em nosso coração.
Mesmo quando nos convencemos de que somos infelizes, a felicidade se encontra ao alcance de nossos corações.
Mesmo quando nossa alma espera ansiosamente por um desejado sorriso, podemos ser gentis.
Mesmo quando não estamos cercados por pessoas perfeitas, a vida ainda é perfeita.
Mesmo quando não acreditamos em nós mesmos, há muitos que dariam a própria vida por crerem na nossa força.
Mesmo quando não desejamos servir, muitas coisas que possuímos serão úteis apenas para nossos semelhantes.
Mesmo quando tentamos agir da melhor maneira, os erros que cometemos nunca significarão que somos inúteis ou imperfeitos.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Abandono e reencontro




Volta desesperado para o lugar onde abandonaste a tua flor.
Volta e vê que ela está bem apesar do teu abandono.
Vê que ela encontrou mãos generosas que lhe dedicaram cuidados.
O carinho que você deixa para doar depois é um punhal que
Penetra dois corações e oxida os mais belos sentimentos.
Um gesto de amor que você não pensa ceifa do teu olhar
A luz da alegria.
Haverá perdão para aqueles que desprendem as mãos dos seus amores?
Haverá felicidade para quem deixa para trás de si um olhar tristonho?
– Mas todos já desistiram do amor, um dia – ele diz.
Porém poucos abandonaram o próprio amor que lhes ardia no peito.
Dois caminhos não se cruzam por acaso e não é por coincidência
Que eles também se estendem juntos ao horizonte.
Volta para o lugar onde você estava.
Volte mudo, surdo e sem gesto.
O amor não é um porto onde se pode atracar por acaso,
O amor é um farol que necessita de constante cuidado
Para sempre indicar o caminho iluminado da salvação.
Volta para a vida que você escolheu viver:
Uma vida sem outra vida.
O coração daquele que abandona uma vida também bate sem vida.
Será sempre assim: as coisas boas perdidas nos caminhos da vida?
Uma mão impiedosa traindo com um falso afago a mais
Bela flor do coração?
Um pedaço de pão escondido debaixo de uma roupa rota?
Um pequeno e imundo arroio para dessedentar uma humilde boca?
Qual foi o momento em que os filhos da vida abandonaram
Sua necessidade mais excelsa e compensadora?
Em todas as almas, a fome e a sede se fazem guerreiras;
Em todos os corpos, o fogo do amor nunca se fará anódino.
Pergunto-lhe:
“Algum dia, a dor lhe caiu na alma por um sentimento que não
merecia o teu apreço ou atenção?”
Você saberia responder?
Volta para o silêncio de onde você nunca saiu.
Volta sem uma palavra amiga ou um gesto doce.
Volta sem um olhar de caridade ou sequer uma pétala de compaixão.
Alguns tomam da vida as suas asas emprestadas – para alcançarem
Os céus –, outros somente se apresentam com grilhões – que
Desejam aprisionar os próprios galhos da vida.
Quando alguma mão se estende para lhes ajudar, eles
Acabam por aprisioná-la consigo.
Talvez um dia ele aprenda a olhar sem apetecer,
Amar sem necessidade;
Talvez uma canção perdoável lhe invada os lábios.
Então ele poderá navegar sem o desespero de um navio sem rumo;
E seu coração poderá descansar à sombra de gestos afáveis.
Quisera eu ver-lhe bebendo a doçura do carinho das amáveis
Mãos de Madre Teresa.
Quisera eu ver-lhe a repousar sobre os cuidados precisos de
Florence Nightingale.
Mas ele ainda possui um longo caminho a percorrer.
E é melhor que ele volte para a estrada de onde veio
E aprenda a caminhar com paciência os pequenos passos da vitória.
O espírito da vida ora para que ele aprenda que uma boca que
Canta não é nada sem um ouvido amigo.
Uma vez mais ele voltou para o campo abandonado.
A flor do seu amor não mais estava lá.
Não que um pé descuidado a tivesse destruído,
Mas uma mão carinhosa lhe houvera protegido.
Resta-lhe um último desespero, contudo alcança-lhe uma
Primeira e salvadora esperança –
A vida nunca nega suas sementes a alguém.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

O BENEFÍCIO DA DOR


Eu necessitava arrancar do peito essa dor contida.
Mesmo após descobrir quão vantajosa
E útil pode ser a dor, ás vezes.
E mesmo havendo a dor da sua ausência,
Ainda há um resto da grande alegria da sua presença perdida.
Há resquícios da descoberta de um sentimento tão afável.
E embora haja palavras de dor,
Há também o brilho de pensamentos bons e inesquecíveis.
Poucas pessoas sabem o que é dor de verdade
E milhares de humanos nunca a conheceram.
Mas num mundo onde o amor precisa lutar bravamente para sobreviver
Qualquer pequena lágrima pode ser considerada uma grande dor,
Enquanto a força dentro de nós brada por um desafio digno
Da proporção do seu poder, se encolhendo cada vez que
Insistimos em temer os dias maravilhosos que se estendem à nossa frente.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Teoria da Integração (A teoria Atômica da Vida)


A teoria da integração,
Ou teoria atômica da vida

Todo o universo habita uma conexão cósmica e sábia. Não há nada do qual se possa dizer: sua existência é desnecessária. Toda a ação, e mesmo a não-ação, está contribuindo para a marcha da vida. Mesmo o que escapa das nossas mãos colabora, de certa forma, para uma outra conquista – talvez maior.
As roupas que vestimos somente protegem os nossos corpos do frio porque, em algum lugar distante, ou mesmo tão próximo e oculto, mas distante da nossa imaginação, alguém teve a paciência necessária para tosquiar uma ovelha e trabalhar na sua lã com cuidado e carinho, ou teve a perseverança de semear o algodão, cultivá-lo com esmero e maestria, colhê-lo e trabalhá-lo para transformá-lo em nossas vestes. Somente nos é permitido sentir o sabor dos alimentos em nossas línguas porque a terra se permite ser lavrada, e alguém trabalha arduamente semeando-a; a chuva também contribui para o crescimento das sementes, assim como o sol; depois, outras pessoas derramam seu suor na colheita. Alguém que trabalha do outro lado do mundo também contribui para que este alimento chegue até o nosso organismo, pois sem o combustível para o transporte do alimento, como as grandes cidades seriam abastecidas?
A madeira (fruto de uma pequenina semente que até poderíamos desacreditar da sua capacidade se não pudéssemos acompanhar seu crescimento) em que sentamos para fazer nossas refeições foi gerada no seio da natureza, derrubada e arrancada do colo da mãe-terra, martirizada por máquinas industrializadas, remodelada pela mão de alguém que consegue compreender a teoria de Lavoisier e doar novas formas à matéria. Esta madeira é irmã das páginas que abrigam as palavras que nos servem de alimento para a alma. Tais palavras foram escritas por alguém que foi impregnado pelo maravilhoso espírito do universo, no entanto, nada representam se não houver um coração em que elas possam residir. Aquele que fala, só pode dizer algo útil quando há alguém para ouvi-lo; aquele que deseja aprender a sabedoria da vida só pode compreendê-la se houver alguém ou algo para instruí-lo.
Não há amor que possa sobreviver dentro de um ser apenas; mesmo Deus, excelso em sabedoria e imenso em perfeição, não conseguiu abrigar toda a força infinita do amor; assim, criou os seres, para que tal amor perene pudesse se manifestar em toda a excelência das suas formas.
Tudo o que está ao redor de algo/alguém faz parte de uma cadeia infinita de elos e aquilo/alguém que está sendo mantido nesse círculo sagrado, por sua vez, é parte integrante de uma peça ainda maior – que está mergulhada nos oceanos encíclicos da vida.
Sempre existimos e sempre existiremos. Os átomos que existem nas moléculas dos nossos corpos são os mesmos provenientes dos frutos que nos alimentam e que, por sua vez, vêm das árvores que foram geradas pela terra, que se nutre dos vermes que se alimentam dos corpos daqueles que descansam em paz nos corações de milhares e de milhões. Um dia, nossos corpos voltarão para o pó de onde foram retirados para alimentarem os vermes que só podem sentir a vida através do sabor da nossa substância física, e que alimentarão as sementes das árvores que darão origem aos frutos que acabarão com a fome dos nossos semelhantes; não obstante, tal ciclo não findará com a morte da fome, pois esses átomos que alimentam os organismos dos nossos irmãos colaborarão na formação de gametas – que permitirão a formação de novos seres, que nada mais são que a matéria divina que sustenta o universo.
Toda vez que agredimos o nosso semelhante é contra nós mesmos que agimos, pois ele faz parte da matéria universal da qual fomos criados. Toda vez que doamos amor seja por um gesto, uma palavra, mesmo a um desconhecido, estamos inundando de energia benevolente o universo; e essa força sempre beneficia todo o mundo – e principalmente a nós mesmos. Às vezes algo de bom nos acontece misteriosamente: conhecemos uma pessoa maravilhosa, vivemos um dia extraordinário, recebemos um presente da vida... Alguns chamam isso de sorte, outros de acaso, coincidência... Entretanto trata-se da força do amor que suscitamos um dia e que, embora tenhamos demorado em presenciá-la próxima a nós – pois ela percorreu muitos caminhos doando energia positiva a muitos seres –, fomos contemplados pela sua influência benigna no momento certo.
Todas as obras da criação – pessoas, animais, plantas, objetos... – são elos divinos, e quando alguém quebra um desses elos está profanando a divindade da natureza cósmica. A caridade que alguém deixa de efetuar se torna em mal para um outro; a água que alguém desperdiça poderia ser utilizada para dessedentar um pobre sequioso; a blusa velha que alguém guarda no fundo do seu guarda-roupa poderia aquecer um sensível corpo. As palavras aprisionadas no coração estagnam o poder da alma. A busca solitária pela compreensão do universo somente afasta a sabedoria; o coração que não possui amor não pode sondar os mistérios da vida.
As mãos foram criadas para se doarem, os pés foram criados para o caminho, a língua e o ouvido foram criados para o diálogo... Cada pequena peça do universo abriga em si um imenso universo – que integra um infinito campo de repouso e movimento para toda a matéria disseminada no espaço. Quão admiráveis se tornam aqueles olhos que enxergam pela primeira vez uma célula no microscópio. Tais olhos presenciam a revelação de um universo oculto – algo que não pensavam existir, mas que está presente em todos os cantos do espaço: nos sons que não podemos ouvir, nas imagens que não podemos ver e em tantas outras maravilhas que precisamos desvendar para contemplar.
Tudo o que existe, por carregar em si o milagre da vida, é sagrado, e mesmo as matérias fecais de alguns animais servem para fertilizar a terra da qual se extrai o alimento para os seres. Mesmo o mais reles homem pode ter o seu dia de herói; tudo depende de uma mudança na utilização da força existente nas obras da criação. Mesmo os vermes que devoram a carne humana, considerados abortos da natureza por muitos, são muito úteis à criação; o que seria do mundo se não existisse a decomposição dos seres mortos? Tais vermes são inúteis? Não, pois não existem criações inúteis; apenas existem obras criadas para a inércia, obras deslocadas do seu lugar. As pedras podem ser inúteis no meio de um caminho, contudo, são essenciais para edificar a construção que vai permitir descanso ao fatigado viajante. Tudo é uma questão de recolocação, desvio.
Todos os seres que possuem o privilégio de pensar poderiam utilizar tal dádiva para refletirem sobre aquilo que lhes circunda e aquilo que se move dentro de si, pois são somente uma coisa. Se pudéssemos ver que estamos todos em interação, e que há uma força suprema e irrevogável – denominada amor – colaborando para a nossa existência, aprenderíamos a transformar forças negativas em positivas; não há o que destruir, pois o amor não destrói, o amor transforma; diviniza tudo o que toca. Somente através dele os seres poderão efetuar a sinergia sagrada que lhes permitirá a harmonia tão necessária à existência.

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sexta-feira, 13 de março de 2009

Os combates da vida


Os combates da vida

Há lutas que sempre terminam em luto... Afasta-te delas, trava o bom combate;
Há risos que sempre terminam em lágrimas... Ignora-os, procura a alegria divina;
Há amigos que sempre se transformam em inimigos... Ajuda-os, e deixa que Jesus, O bom amigo, sonde o coração deles e lhes dê o seu galardão;
Há manhãs de glórias que sempre se transformam em noites soturnas... Acalma-te, deixa que a tua luz interior ilumine o caminho;
Há noites soturnas que sempre se transformam em manhãs de glórias... Sorri, e aproveita para enxergar as maravilhas da vida em movimento;
Há passos que não vão dar em lugar nenhum... Espera, descansar também é um ato pertencente à conquista;
Há estrelas que necessitam se apagar... Não lamentes, aprende a olhar... Elas vivem dentro de ti;
Há flores que necessitam murchar... Não desanimes, converte o teu pranto em riso para as flores que ainda vivem.
Há pássaros que precisam de um lar... Não os aprisione, cultive jardins para que eles se divirtam;
Há “verdades” que sempre causam divisão... Questiona-as, repudia-as;
Há conselhos que sempre trazem malefícios... Esconda deles teus ouvidos;
Há desejos que sempre trazem males indesejáveis... Guarda deles o teu puro coração;
Há caminhos que sempre devem ser percorridos... Não adies os passos necessários;
Há melodias esperando para nascerem... Ajuda-as a chegarem a este mundo maravilhoso;
Há histórias desejando viajarem o mundo... Propaga o bom diálogo, a comunicação;
Há sementes que só tu podes fazer brotar;
Há vitórias que só tu podes ajudar a acontecer;
Há lágrimas que só tuas suaves mãos podem enxugar;
Há corpos lânguidos que só tu podes aquecer com tua vigorosa energia;
Há palavras benévolas que só o teu prodigioso coração consegue imaginar;
Há muitos combates e todos eles são apenas um, pois ninguém combate sozinho; Deus é o Deus dos Guerreiros benévolos, e aquele que não aceita os desafios da vida não merece a beleza que Ele, através da vida, oferece aos valentes vitoriosos.
Somente quem precisa lutar por um sorriso é que sabe que, às vezes, ele é feito de muitas lágrimas;
Somente quem caiu muitas vezes é que sabe o valor de um pequeno passo para se erguer;
Somente quem já foi derrotado pelo medo é que sabe a importância da coragem;
Por isso, não esperes um pedido de socorro, estende logo o braço;
Não esperes uma bandeira branca, declara logo a paz;
Não esperes abraços, abre logo teus braços;
Não proteles o amor que Deus colocou em teu coração, pois esse amor não pertence a ti; ele te foi doado para que também o does a quantos puderes.
Combata sempre, mas combata a favor das lutas justas.
Lembre-se que, num combate, o importante é fazer aliados e não inimigos.
Mantenha-se em constante treinamento, pois a vida não pára. Nunca permita que um desafio te encontre despreparado.
E o mais importante: nunca se esqueça que o verdadeiro guerreiro sempre luta com amor no coração, porque é o amor que indica os caminhos da vitória.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Opúsculo Divino (poema integrante do meu livro “Histórias para o coração do universo” - que será lançado em breve)

Opúsculo divino

Para Paulo, Dante e Camões

Prólogo

A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com vós todos. Amém.
II Coríntios 13:13

I

Para Paulo


Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
I Coríntios 13:1-3


Você me possui por séculos.
Nas noites frias, nos dias quentes,
Quando dorme e quando acorda,
Se chora ou se sorri.
E, no entanto, não me conhece,
Ou, na verdade, não quer saber.
Porém, hoje far-te-ei enxergar
Que nas águas que escorrem
Eu desenho o caminho;
Nos pássaros que voam eu sustento o infinito;
Dos olhos do sol eu arranco a luz que te ilumina.
Faço-te farol para a felicidade.
Eu sou o ar que você respira,
O alimento doce para o seu paladar,
O segredo sagrado que você bem conhece.
Eu sou a resposta para o seu coração,
A chama que arde e queima a escuridão;
Porque no escuro todos dormem ainda,
Mas acordados comigo seguirão iluminados.
Apenas saiba que não bastam perguntas,
Eu sou a resposta que nenhuma pergunta pode calar.
Apenas nascem as coisas, mas Eu existo antes do alvorecer.
Após a noite, envio o brilho do arrebol e visto as tardes
Com o noturno lençol.
Meus olhos não se cerram, pois você precisa de mim.
Os meus olhos são estrelas – estão em todos os lugares.
A chuva é o meu suor – quando labuto para te sustentar.
Meu sorriso é o cometa que risca o céu
Quando sorrio por te ver feliz.
Por que você ainda possui perguntas?
Os campos azuis do mar,
O grandioso exército dos céus,
O poderoso suspiro dos ventos,
A via-láctea,
As flores,
As estrelas,
Os diamantes,
As virtudes inocentes que lhe habitam o espírito,
A terra fértil de onde você tira o sustento,
As fontes ululantes onde você mata a sua sede,
Todos os domínios que as suas mãos podem tocar,
Não são respostas necessárias?

II

Para Dante

O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência desaparecerá.
I Coríntios 13:4-8


Às vezes, desconhece a verdade do seu caminho.
Porém, desenha o sol que lhe ilumine,
Construindo faces nas linhas de suas mãos.
Perde o que não deseja;
Ganha muito mais do que queria.
E por não saber que é perfeito
É lindo e direito.
Abre seu fruto na língua dos anjos...
Golpeia sua navalha na carne da virgem...
Ataca sem ferir, fere sem doer.
Estar cativo por desejo.
Perder-se sem romper limites,
Voar sem asas cortando o frio.
Tudo é paz sobre o seu travesseiro,
Esperando o que não seja contrário –
Oposto ao seu próprio encanto.
O que contenta, porém, perturba.
Verdade ainda acordada...
O que obedece sem pertencer...
O que acredita que ainda é capaz
De transformar o que não está perdido –
O mesmo...
Outra vez...
Tenta brotar na pele das crianças...
Amor –
Palavra oculta que embriaga inimigos.

III

Para Camões

Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo, que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.
I Coríntios 13: 9-12


Mesmo que eu tivesse a força para transportar os montes
E o fôlego poderoso para controlar os ventos,
Seria como o pó nas pedras de secas fontes
Se não estivesse o amor em meus pensamentos.
E se eu pudesse dominar as palavras do universo
Para que elas trouxessem a harmonia,
Sem amor, o meu coração perverso
Seria nada – e nada valeria.
O amor é a água que dessedenta o coração,
É o fogo ardente que abrasa até à alma,
É o vento forte que nos turva a visão
E a brisa leve que abranda e acalma.
É o pássaro que espalha a semente
Atirando-a como flecha sem destino.
É o que nos faz chorar e estar contentes,
É um grande privilégio e maior desatino.
É a força que governa o mundo
E sai abrindo suas feridas.
É a cura que nos deixa moribundos,
Desejando um pouco mais de vida.
É o oceano mais azul e profundo
Que o azul do céu mais forte,
É o que nos torna vagabundos
Presenteados pela suprema sorte.
Mesmo que eu tivesse da criança a inocência
E roubasse dos cientistas a ciência,
E adquirisse dos dicionários a eloqüência,
E de Deus recebesse a inteligência.
Se o amor não estivesse em minhas veias –
Como o fogo da vida que incendeia –,
Eu existiria e não viveria,
Compraria asas e não voaria.

Epílogo

Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.
I Coríntios 13:13